CUIDADO PASTORAL A
PARTIR DA IGREJA LOCAL
Professor:
Dr Edilson Soares de Souza
Mestrandos: Ivanaldo Ferreira dos Santos, Jeverson
Nascimento, Jonas de Oliveira, Silvia Tenille, Campos da Silva.
1.
Estabelecendo a visão
Para que a igreja se torne uma comunidade terapêutica, como sugere Collins, é
necessário uma avaliação e uma adaptação da necessidade da igreja local, afinal, cada igreja se
constitui uma comunidade com características próprias. Por isso, é importante uma análise do potencial que a igreja possui para o
aconselhamento.
A
ideia geral e resumida de uma comunidade terapêutica é
a de que os membros
da igreja possam pastorear-se mutuamente, e que nem todos os problemas e
inquietações dos membros
devam necessariamente passar pelo pastor, mas que em situações mais simples do cotidiano, os membros possam buscar a Deus juntos,
e orar uns pelos outros.
Esse
objetivo poderia ser alcançado através da valorização do ser humano, como alguém criado à imagem e semelhança de Deus, e que pode, sem intermediário, buscar um relacionamento íntimo e pessoal com
Deus, e igualmente levar outros a uma mesma intimidade com o Senhor. Nesse
processo, todos teriam diante de si o exemplo do Cristo revelado nas
Escrituras, que acolhe o ser humano em amor, com um verdadeiro senso de
responsabilidade, dando a cada uma oportunidade de
desenvolver o seu potencial e lidar com maturidade nas questões e dores que a
vida apresenta.
A
habilitação para tal tarefa não dependeria de uma formação específica, ou mesmo de uma ordenação institucional,
mas sim, do desenvolvimento do fruto do Espírito na vida de
cada crente. Ao buscar a plenitude de cada uma das características desse fruto (amor, alegria, paz,
paciência,
benignidade, bondade, fé, mansidão e domínio próprio), o membro assumiria diante de Deus e das pessoas a tarefa de um
cuidado mútuo. Esta visão permitiria que o membro compreendesse o processo de restauração que todos podem
experimentar através do aconselhamento bíblico e pastoral, tendo Jesus Cristo como padrão, àquele que se dispôs à todos os seres humanos, por meio do seu sacrifício, e do seu
perdão na cruz do calvário.
O
pleno funcionamento desse modo de gestão de pessoas, em
que todos os membros são assistidos em suas necessidades, ao mesmo tempo em que cuidam de outros
em suas dificuldades, está intimamente ligado à
figura do pastor. Nesse caso, tanto o líder quanto os membros da igreja estarão comprometidos com a visão de
aconselhamento, sob a ótica de que o Deus que capacita o pastor, também treina as ovelhas
do seu rebanho, através do Espírito Santo.
Como
afirma James Reaves Farris, o cuidado pastoral desenvolve-se em um processo, e
só pode ocorrer no
contexto da igreja local, pois está
intimamente ligado
aos relacionamentos íntimos da pessoa,
com o líder que o
acompanha, com os irmãos que dão suporte emocional
e espiritual, e com a família que pode ou não pertencer à comunidade de fé.
2.
Transmitindo a visão
Como esse tipo de trabalho não é comum em nossos
dias e em nossas igrejas, é
necessário que haja um
treinamento específico e intenso de
uma liderança. Esses líderes seriam os principais articuladores da visão. Esse treinamento deve contemplar um entendimento claro do que é a psicoteologia,
fazendo uma ligação entre os ensinos teológicos cristãos e a psicologia, no sentido que
de, como seres integrais, somos portadores de questões emocionais,
psicológicas e espirituais. É por isso que o atendimento
pastoral deve contemplar o ser humano como um todo.
O propósito do treinamento
é despertar um
engajamento não apenas com outros membros da igreja, mas primeiramente
com Deus. Uma vida de oração, de devoção séria e
disciplinada, pode refletir num compromisso sério com o indivíduo, com a pessoa
que precisa de um acolhimento, independente dos seu problemas ou tempo
de maturidade espiritual.
Esse trabalho envolvendo toda a igreja não isenta o líder ou o pastor de
um trabalho de aconselhamento. Pelo contrário, intensifica o seu trabalho, pois a ideia é criar uma rede de integração com seus liderados. O feedback com
tais líderes é de fundamental
importância, pois o líder precisa ajudar seus
liderados a identificar quais são os casos em que
eles devem encaminhar ao pastor, por ser um problema
de maior abrangência ou mesmo
exigir uma especialização clínica.
Dessa forma, viabiliza a multiplicação do pastoreio, sem que seja necessário alguém de fora
substituir o pastor em sua ausência, nas atividades mais vitais da igreja.
3.
Implantação da visão
Durante o processo de implementação de uma visão, o ponto mais desafiador e que leva mais tempo,
exigindo uma atenção especial, é a implantação. Afinal, durante o processo, aquele que vai implantar o projeto, precisa levar em consideração fatores
essenciais, como por exemplo, o temor dos membros em assumir essa missão, o preparo bíblico e teológico de cada um,
a auto estima de cada participante, além da compreensão de que cada
pessoa precisa se desenvolver e se preparar para o aconselhamento, entretanto,
cada indivíduo tem sua experiência particular nesse processo.
No momento da implantação da visão, alguns
cuidados se fazem necessários, a saber: a escolha do local do treinamento, o tempo de cada
encontro, o material impresso para cada participante, o momento para um café, a divisão dos temas que
serão ministrados em
módulos e o
acompanhamento individual de cada um no desenvolvimento do aprendizado e
treinamento para o aconselhamento bíblico e pastoral.
A Bíblia Sagrada não deve ser utilizada como uma ferramenta complementar do
aconselhamento, mas tem o seu lugar principal, admitindo-a como nossa regra de fé e prática, além de ser a principal ferramenta para que os princípios nela contidos sejam norteadores
da prática pastoral. Isso não significa que não haja necessidade de outras ferramentas e técnicas de aconselhamento, mas
nunca deve-se esquecer que trata-se de uma comunidade cristã de fé, e a prática dessa fé é o seu principal diferencial pelo qual as pessoas passarão a procurar acompanhamento.
Embora o aconselhamento seja um trabalho que visa abranger a
totalidade do ser humano e apoiá-lo em todas as
questões de sua existência, em nome da crença cristã, trabalhar para a salvação da alma do indivíduo não é algo que deva ser
esquecido ou negligenciado. Em outras palavras,
mesmo que o aconselhando recuse o evangelho, ele não deve ser
deixado de lado ou mesmo afastado do tratamento pastoral, afinal, a ação evangelística deve estar sempre presente.
Finalmente, entende-se que, ao estabelecer a
visão, transmiti-la e
implantá-la, o foco
principal desse investimento é na salvação do indivíduo, confrontando o
seu pecado, convidando-o ao arrependimento e
oferecendo-lhe e graça de Deus. Para que esse processo se dê da melhor forma
possível, o conselheiro precisa tomar o
cuidado de, ao ouvir a confissão, não se posicionar na condição de juiz, mas de
um facilitador que visa a reconciliação do pecador com o
perdão de Deus na pessoa de Jesus Cristo.
Comentários
Postar um comentário